Será que quem comete suicídio já está condenado ao inferno? O reverendo Hernandes Dias Lopes responde.
Como a igreja encara a questão do suicídio
Culturalmente, principalmente na tradição da religião católica, as pessoas se acostumaram a ouvir que quem comete suicídio vai para o inferno. Para Hernandes, no entanto, essa não é uma visão biblicamente correta.
“Primeiramente, é preciso dizer que o suicídio é condenado de todas as formas, seja filosoficamente, moralmente ou espiritualmente. Não podemos jamais fazer apologia a essa prática. É uma quebra do sexto mandamento: não matarás. Deus é o autor da vida e só Ele pode tirá-la. Eu não posso acionar a mão que ceifa minha própria vida”, disse.
Em seguida, ele entra exatamente no cerne da questão. “Mas afirmar que todo suicida está perdido, no inferno, não tem fundamentação bíblica. Porque a ideia de que todo suicida é discípulo de Judas Iscariotes é um equívoco. Ele não foi para o inferno porque se suicidou, mas porque não era convertido”, afirma.
Trata-se de uma importante questão de saúde
Para justificar sua posição, o pastor comenta as causas que levam a pessoa a tirar a própria vida.
“A questão básica é que existe muitas causa para o suicídio. Pode ser provocado, por exemplo, por problemas passionais, econômicos, de saúde. Há suicídios por radicalismo religioso, patriótico. Mas a principal causa é a depressão. Se ela não foi devidamente tratada, pode causar um desequilíbrio total do controle da sua vida, que pode levar, no auge, a fazer uma coisa radical”, destaca o reverendo.
Como doença, Hernandes entende que é fundamental que seja tratada da forma correta.
“É muito importante tratar. Depressão se trata com remédio, terapia e com fé. Não se pode lidar com a depressão apenas como se fosse uma opressão demoníaca ou pecado. Depressão é uma doença. E, como tal, precisa de remédio”, explica.
Em relação à fé, o líder religioso reforça a importância dela superar tal crise.
“A pessoa deve ter confiança em Deus de que esse ciclo vai passar e ter esperança que o sol vai voltar a brilhar na sua vida”, salienta.
Afinal de contas, um suicida perde a salvação e vai para o inferno?
Além disso, Dias Lopes, que é calvinista (segue os preceitos da doutrina baseada nos ensinado de João Calvino – 1509/1564), não acredita que quem cometa suicídio perca a salvação.
“A pergunta é: uma pessoa salva pode ter uma depressão severa? Pode. E ela pode chegar a um momento de perder o equilíbrio, a sensatez e, assim, atentar contra a própria vida? Pode. Se uma pessoa nessa conjuntura, salva pela graça, atentar contra a vida, perde a salvação? Não. A salvação não se perde. Não somos o juiz pra definir quem está salvo ou perdido. Deus conhece os critérios para isso”, conclui o pastor.